quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Auto da Barca do Inferno - Gil Vicente


Grupo: Edmar Martins, Éverson Subrinho, Suiane Laura, Fabíola Gomes, Romilson, José, Camila.


O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, é considerado pelos estudiosos como uma dramática, farsa ou ainda auto de moralidade. A ação dramática do auto passa-se num lugar imaginário, porto de partida das duas barcas, a do inferno e a da glória, numa clara alusão ao Juízo Final, que é quando se decidem os destinos eternos das almas. Os personagens do auto, são figuras típicas da sociedade portuguesa em começos do século XVI: o fidalgo (representando a nobreza), o onzeneiro (agiota), um sapateiro (provavelmente um mestre de ofício, representando a nascente burguesia), um parvo (homem comum e humilde), um frade (representando a ala mundana e corrompida da Igreja), uma alcoviteira (dona de bordel), um judeu usurário, um corregedor e um procurador (representando a burocracia jurídica corrupta), um enforcado e quatro cavaleiros que perecem a serviço da FÃ ©.
É certo que Gil Vicente buscou retratar figuras típicas do seu tempo. Podemos nos perguntar: e se o dramaturgo vivo fosse, a que personagens ele daria vida hoje, cinco séculos depois? Para respondermos essa pergunta, examinemos os tipos sociais do Brasil de hoje.
Antes de tudo, é preciso reconhecer que a mentalidade dos tempos que correm difere em altíssimo grau daquela da sociedade renascentista em que viveu Gil Vicente. Naqueles tempos, o mundo religioso, com todos a sua simbologia e ritos, fazia parte da vida de praticamente todas as pessoas, compondo seu imaginário e interferindo enormemente nas relações sociais, situação que praticamente desapareceu em nossa época ateísta e materialista.  É importante fazer essa distinção, porque o Juízo Final não é mais uma preocupação real para as pessoas; é antes um conceito antropológico, histórico. Em nossa época as pessoas não querem saber o que sobrevém depois da morte. Esta é simplesmente uma pergunta incômoda que melhor mesmo é nem pensar nela. Nos tempos de Gil Vicente, ainda havia duas dimensões muito presentes para todas as pessoas: a dimensão horizontal, mundana, e a  vertical, ligando o homem a Deus; mais ou menos como sugere René Guénon na sua simbologia da cruz (o eixo vertical cruzando-se com o horizontal) ou como nos ensina Santo Agostinho em sua monumental obra: A Cidade de Deus.
Feita a ressalva, e partindo da hipótese de que as personagens de hoje, uma vez passadas desta para melhor, se deparassem com o julgamento inesperado de que nos fala a Sagrada Escritura, podemos conjeturar sobre quais seriam os tipos retratados pelo célebre autor português. Alguns tipos retratados no Auto mantêm sua atualidade, são atemporais por assim dizer. O fidalgo ainda existe; são pessoas que pertencem a famílias quatrocentonas, como os Matarazzo em São Paulo, alguns clãs em Porto Alegre, Pelotas, Recife, etc... O onzeneiro é um tipo que abunda em nosso tempo, mas cremos que hoje ele estaria melhor representado por um banqueiro, que é o agiota legal; Olavo Setúbal, por exemplo, encarnaria bem essa personagem. O parvo, este é figura presente em todas as épocas; é o homem comum que tem lá os seus pecados mas que não tem maldade no fundo da alma. O sapateiro,  ou burguês, esse seria qualquer empresário desonesto (lembrando que os há honestos, sim, senhor, contrariamente ao que nos juram os marxistas de carteirinha, vale dizer, todos os intelectuais e políticos brasileiros). O frade mundano também é tipo onipresente em nossa sociedade, vide os dirigentes da CNBB e os padres apologistas da Teologia da Libertação (Frei Beto, por exemplo). A alcoviteira, é figura disseminadíssima em tempos de erotização total do  imaginário popular e do lucrativo ramo da indústria pornográfica. O corregedor e o procurador também são tipos atemporais; por aqui cremos que qualquer dos ministros do STF poderia figurar na peça vicentina, com suas herméticas e sociais interpretações da Constituição. O enforcado é infelizmente a sina de muitos brasileiros, que se desencaminham na vida por falta de valores e de condições dignas de existência, e muitas vezes buscam no crime o que na vida ordinária não foram capazes de c onquistar. Já os quatro cavaleiros, que curiosamente são as figuras que ganham a glória eterna na obra de Gil Vicente, são tipos praticamente inexistentes no Brasil. Eles existem, mas não chamam a atenção. Vivem tranqüilamente o anonimato de suas boas ações e, quando pertencentes ao clero, não dão nenhum ibope; exemplo, o padre Paulo Ricardo (www.padrepauloricardo.com.br); não têm nenhuma atenção da mídia, que aprecia muito aquelas figuras dadas a fazer piruetas, como o faziam outrora os bufões das cortes (ex: padre Marcelo).
Os tipos de hoje são abundantes e de variados matizes, mas cremos que para uma breve amostra, como a requerida pelo presente exercício, a sugestão acima apresentada dá bem conta do recado.



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