Grupo:
Edmar Martins, Éverson Subrinho, Suiane Laura, Fabíola Gomes, Romilson, José,
Camila.
O Auto da
Barca do Inferno, de Gil Vicente, é considerado pelos estudiosos como uma
dramática, farsa ou ainda auto de moralidade. A ação dramática do auto passa-se
num lugar imaginário, porto de partida das duas barcas, a do inferno e a da
glória, numa clara alusão ao Juízo Final, que é quando se decidem os destinos
eternos das almas. Os personagens do auto, são figuras típicas da sociedade
portuguesa em começos do século XVI: o fidalgo (representando a nobreza), o
onzeneiro (agiota), um sapateiro (provavelmente um mestre de ofício,
representando a nascente burguesia), um parvo (homem comum e humilde), um frade
(representando a ala mundana e corrompida da Igreja), uma alcoviteira (dona de
bordel), um judeu usurário, um corregedor e um procurador (representando a
burocracia jurídica corrupta), um enforcado e quatro cavaleiros que perecem a
serviço da FÃ ©.
É certo que
Gil Vicente buscou retratar figuras típicas do seu tempo. Podemos nos
perguntar: e se o dramaturgo vivo fosse, a que personagens ele daria vida hoje,
cinco séculos depois? Para respondermos essa pergunta, examinemos os tipos
sociais do Brasil de hoje.
Antes de
tudo, é preciso reconhecer que a mentalidade dos tempos que correm difere em
altíssimo grau daquela da sociedade renascentista em que viveu Gil Vicente.
Naqueles tempos, o mundo religioso, com todos a sua simbologia e ritos, fazia
parte da vida de praticamente todas as pessoas, compondo seu imaginário e
interferindo enormemente nas relações sociais, situação que praticamente
desapareceu em nossa época ateísta e materialista. É importante fazer essa distinção, porque o
Juízo Final não é mais uma preocupação real para as pessoas; é antes um
conceito antropológico, histórico. Em nossa época as pessoas não querem saber o
que sobrevém depois da morte. Esta é simplesmente uma pergunta incômoda que
melhor mesmo é nem pensar nela. Nos tempos de Gil Vicente, ainda havia duas
dimensões muito presentes para todas as pessoas: a dimensão horizontal,
mundana, e a vertical, ligando o homem a
Deus; mais ou menos como sugere René Guénon na sua simbologia da cruz (o eixo
vertical cruzando-se com o horizontal) ou como nos ensina Santo Agostinho em
sua monumental obra: A Cidade de Deus.
Feita a
ressalva, e partindo da hipótese de que as personagens de hoje, uma vez
passadas desta para melhor, se deparassem com o julgamento inesperado de que
nos fala a Sagrada Escritura, podemos conjeturar sobre quais seriam os tipos
retratados pelo célebre autor português. Alguns tipos retratados no Auto mantêm
sua atualidade, são atemporais por assim dizer. O fidalgo ainda existe; são
pessoas que pertencem a famílias quatrocentonas, como os Matarazzo em São
Paulo, alguns clãs em Porto Alegre, Pelotas, Recife, etc... O onzeneiro é um
tipo que abunda em nosso tempo, mas cremos que hoje ele estaria melhor
representado por um banqueiro, que é o agiota legal; Olavo Setúbal, por
exemplo, encarnaria bem essa personagem. O parvo, este é figura presente em
todas as épocas; é o homem comum que tem lá os seus pecados mas que não tem
maldade no fundo da alma. O sapateiro,
ou burguês, esse seria qualquer empresário desonesto (lembrando que os
há honestos, sim, senhor, contrariamente ao que nos juram os marxistas de
carteirinha, vale dizer, todos os intelectuais e políticos brasileiros). O
frade mundano também é tipo onipresente em nossa sociedade, vide os dirigentes
da CNBB e os padres apologistas da Teologia da Libertação (Frei Beto, por
exemplo). A alcoviteira, é figura disseminadíssima em tempos de erotização
total do imaginário popular e do
lucrativo ramo da indústria pornográfica. O corregedor e o procurador também
são tipos atemporais; por aqui cremos que qualquer dos ministros do STF poderia
figurar na peça vicentina, com suas herméticas e sociais interpretações da
Constituição. O enforcado é infelizmente a sina de muitos brasileiros, que se
desencaminham na vida por falta de valores e de condições dignas de existência,
e muitas vezes buscam no crime o que na vida ordinária não foram capazes de c
onquistar. Já os quatro cavaleiros, que curiosamente são as figuras que ganham
a glória eterna na obra de Gil Vicente, são tipos praticamente inexistentes no
Brasil. Eles existem, mas não chamam a atenção. Vivem tranqüilamente o
anonimato de suas boas ações e, quando pertencentes ao clero, não dão nenhum
ibope; exemplo, o padre Paulo Ricardo (www.padrepauloricardo.com.br); não têm
nenhuma atenção da mídia, que aprecia muito aquelas figuras dadas a fazer
piruetas, como o faziam outrora os bufões das cortes (ex: padre Marcelo).
Os tipos de
hoje são abundantes e de variados matizes, mas cremos que para uma breve
amostra, como a requerida pelo presente exercício, a sugestão acima apresentada
dá bem conta do recado.
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