segunda-feira, 11 de junho de 2012

Trovadorismo e o Panorama Histórico


Trovadorismo

             O trovadorismo foi a primeira manifestação da literatura da língua portuguesa. Surgiu no século XII, em plena idade média, período em que Portugal estava no processo de formação nacional. O período mais fértil do trovadorismo ocorreu em meados do século XIII com a canção da Ribeirinha, de Paulo Soares de Taveirós (1189 a 1418) e sua decadência ocorreu a partir de meados do século XIV. E o seu Término ocorreu com a  nomeação de Fernão Lopes como cronista- mor da Torre do Tombo (1434).

             A poesia trovadoresca tem íntima ligação com a música, pois era composta para ser harmoniosa ou cantada com acompanhamento instrumental como:

- o alaúde - a flauta - e a viola.

                       Panorama histórico

·         Cristianismo –

·         Cruzado rumo ao oriente –

·         Luta contra os mouros –

·         Teocentrismo: poder espiritual e cultural na mão da igreja católica

·         Feudalismo -

·         Consolidação de Portugal



Gênero lírico

             Preocupa-se principalmente com o mundo interior do eu lírico, descrevendo os sentimentos amorosos desse. As cantigas líricas tanto de amor como de amigo, possuíam uma estrutura mais formal, com o uso de rimas e refrões.
·         - cantigas de amor
·         - cantigas de amigo
DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE AS CANTIGAS LÍRICAS




CANTIGAS DE AMOR
CANTIGAN DE AMIGO
ORIGEM
Provençal
Península Ibérica
AUTORIA
Masculina
Masculina
SENTIMENTO
Masculino
Feminino
AMBIENTE
Palaciano
Rural

O homem presta vassalagem amorosa
A mulher sofre pelo amigo (namorado, amante) ausente.

A mulher é um ser idealizado, superior
A mulher e um ser mais real e concreto

Predominam temas como o saudosismo, o desespero pela ausência da dona, a timidez amorosa, a revolta contra o poder fatal da coita de amor, etc
Predominam os temas da descoberta do amor, da tristeza pela ausência do ser amado, da espera, da decepção pelo abandono, da alegria pela realização amorosa, etc.


Características das cantigas

                Cantigas de amor

·         - Eu lírico masculino

·         - sofrimento amoroso do eu lírico perante uma mulher idealizada e distante;

·         - contemplação platônica;

·         - uso de “meu senhor”;

·         - sofrimento por amor (coita);

·         - amor cortês (vassalagem amorosa);

·         - ambiente palaciano;

·         - estribilho ou refrão;

·         - origem provençal.


Cantigas de amigo

·         - eu lírico feminino

·         - o trovador põe-se no lugar da mulher que sofre pelo amado;

·         - uso do termo “amigo”, que significa namorado, amante, marido.

·         - mulher concreta, real. Amor físico

·         - diálogos: conversa com a natureza, mãe, amiga;

·         - predomínio da musicalidade;

·         - ambiente rural: mulher camponesa;

·         - influência da tradição oral ibérica;

·         - paralelismo e refrão;

·         - origem portuguesa;

 Gênero satírico

             O objetivo é criticar alguém, ridicularizando esta pessoa de forma sutil ou grosseira. As cantigas satíricas especialmente as de maldizer, possuíam uma forma mais livre, em que se podiam usar expressões fortes até palavrões.

             Cantigas de escárnio

·       - Referencias indiretas;

·       - ironia;

·       - ambiguidade (vocabulário de duplo sentido);

·       - não se revela o nome da pessoa satirizada;


Cantigas de maldizer


·         - sátira direta;

·         - maledicência;

·         - uso de palavras obscenas ou de conteúdo erótico;

·         - citação nominal da pessoa satirizada;

 A Lírica Trovadoresca na Música Popular Brasileira


             A lírica trovadoresca medieval, exemplificada nas “cantigas de amor” e “de amigo”, nas “cantigas de escárnio” e “de maldizer”, permanece nas diversas formas e estilos da poesia e da música brasileiras. Vinculada à tradição oral, essa expressão artística foi disseminada entre povos de tempos e territórios diversos através dos jograis, homens do povo, cantadores andarilhos que, nas suas peregrinações, romarias e procissões, entoavam ao som do alaúde, da flauta e da viola as composições de autoria própria ou dos trovadores e menestréis. Estes últimos eram músicos profissionais conceituados da corte, enquanto os primeiros eram compositores de origem nobre.
             No percurso de tempos e geografias, as cantigas líricas foram sendo modificadas. Porém, foram preservados os aspectos pertinentes a sua origem grega: uma poesia composta para ser cantada ao som da lira, em que o texto poético mantém a intersecção com o texto musical, uma regularidade métrica e rítmica, nas construções estróficas em sextilhas, em décimas, e nos versos emparelhados.

             No período medieval, a transmissão cultural se dava, quase sempre, por meio da oralidade, através dos jograis, recitadores e cantadores de origem comum que, diferente dos trovadores, nobres que compunham por prazer, andavam pelas aldeias, nas romarias e cortejos, fazendo demonstrações de seu repertório poético e musical, ou mesmo na lida tangendo animais, ou realizando negócios (SARAIVA & LOPES, 1995).

             No Brasil, a herança trovadoresca se faz presente da entrada do povo português nas terras de “Caramuru” ao projeto nacionalizante do Modernismo. Na poesia catequética do Padre José de Anchieta, apenas para ilustrar, as técnicas orais de repetição mnemônicas percorrem as quadras de versos curtos e musicados, em frequente louvação à “senhora toda poderosa”, representada pela mãe de Jesus Cristo. 

              Objetivamos demonstrar a presença do Trovadorismo na música popular brasileira, destacando os traços da poesia medieval nas letras de três músicas contemporâneas, através da interpretação de canções que resgatam o sentido das cantigas de amigo e cantigas de amor, nos seus aspectos formais e temáticos.

              Para tanto, lançamos mão de leituras sobre as canções.
·         “Sozinho”, de Peninha –

·         “Queixa” de Caetano Veloso -

·         “Incelença pro amor ritirante”, de Elomar Figueira
         

 Sozinho”, de Peninha                                        «Ondas do mar de Vigo»  (Martim Codax)

Cantiga de amigo – dias atuais

Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
To me sentindo muito sozinho!
Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho os meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha? (...)
Cantiga de amigo trovadoresca

Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ai Deus, se verra cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo
!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo
!
Se vistes meu amado,
por que ei gran coitado?
E ai Deus, se verra cedo
!


             “Queixa” de Caetano Velo                                              “Dom Diniz”


Cantiga de amor – dias atuais

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não o devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho certeza
Princesa
Surpresa
Você me arrasou
Nem sente que me envenenou
Senhora e agora
Me diga aonde eu vou
Senhora
Serpente
Princesa (...)

Cantiga de amor – trovadoresca
O que vos nunca cuidei a dizer
Com gram coita, senhor, vo-lo direi,
Porque me vejo já por vos morrer.
Cá sabedes que nunca vos falei
De como me matava voss’ amor
Ca sabedes bem que d’outra senhor
Que eu nom havia pavor nem ei
E todo aquesto me fez fazer
E mui gram medo que eu de vós ei
E desi por vós dar a entender
Que por outra morria de que ei
Bem sabedes, mui pequeno pavor
E des oi mais, fremosa mia senhor. (...)

      
“Incelença pro amor ritirante,                                   (de Elomar Figueira)                                                                                                                   
“Despedida do morto”,
Vem amiga visitá
A terra, o lugá
Que você abandonô
Inda ouço murmurá
Nunca vou te deixá
Por Deus nosso Sinhô
Pena cumpanhêra agora
Que você foi embora
A vida fulorô
Ouço em toda noite iscura
Como eu a sua procura
Um grilo a cantá
(...)

              Esta última trata-se da junção de tipos diferentes de cantigas e se distancia das duas primeiras, não somente pela mescla de tipologias, mas também pela ambientação no universo do sertanejo e pela maior fidelidade ao registro oral.   

             A música “Incelença pro amor ritirante”, de Elomar Figueira, é construída a partir da pesquisa sobre as origens do brasileiro e vincula-se mais ao universo do sertanejo, à terra e à tradição oral. Enquanto na canção “Sozinho”, de Peninha, as marcas de oralidade se situam mais no nível da estrutura do verso, nas repetições e anáforas, na composição de Elomar, essas marcas se situam também no nível fonético. O eu-lírico, nessa cantiga, é o violeiro que canta sua mágoa em uma linguagem quase dialetal:

A canção, “Queixa”, de Caetano Veloso, apresenta componentes formais e temáticos que a inserem na categoria de cantiga de amor. Composta em quadras e redondilhas entrecruzadas, arrematadas por um refrão reforçador do motivo da cantiga: a “coita” do eu-poético pelo amor não merecido, causa do um “penar” já cantado por outros tantos trovadores à moda de D. Diniz: “Tam grave dia que vos conhoci,/ por quanto mal me vem por vós, senhor!”

             Na música “Sozinho”, de Peninha, os elementos da cantiga de amigo, são incorporados no modo como o eu-lírico se dirige à pessoa amada distante, embora aqui os papéis estejam inversos: o eu-poético que se ressente da solidão não é mulher, e sim o homem. A voz masculina já não se manifesta cheia de cerimônias como na cantiga de amor. E a impossibilidade de realização amorosa se dá pela ausência da musa e não por proibições de classe ou pela condição adulterina do amor imposta pelo sacramento matrimonial.


Estilos atuais de cantigas de mal dizer      (Caçadores – dona Gigi)

                                                                                               
Oi eu sou a gigi, esse é meu marido ...ai sai fora!

Caolha, nariz de tomada, sem bunda, perneta,
Corpo de minhoca, banguela, orelhuda, tem unha incravada,
Com peito caido e um caroço nas costas...
Ih gente! capina, despenca,
Cai fora, vai embora ,
Se não vai dançar,
Chamei 2 guerreiros,
Bispo macedo, com padre quevedo pra te exorcisar...
Oi, vaza!



Cantigas de maldizer                     (Afonso Eanes de coton)

Maria mateu, daqui vou desertar.
De cona não achar o mal que vem.
Aquela que a tem não ma quer dar
E alguém que ma daria não a tem.
Maria mateu, Maria mateu,
Tão desejosas sois de cona como eu!
Quantas conas foi Deus desperdiçar
Quando aqui abundou quem as não quer!
E a outros , fe-las mui desejar:





Cantiga de escárnio – atuais                      (Graça graúna)

Não sei o que mais fazer
já procurei mil saídas
fui até ao pai dos burros
e lá encontrei a dica:
...se a pessoa é um xarope
ou besta humana que assusta
tem mais que tomar o chá
de semancol pra ter cura  (...)

Cantiga de escárnio - trovadoresca                                            (D. Joan Garcia de guilharde)


Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louve'en em meu trobar;
mas ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...

8 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. O trabalho está ótimo, principalmente, (A Lírica Trovadoresca na Música Popular Brasileira), tema do nosso trabalho!


    jeane 3ºsemestre letras

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  3. Concordo com a Jeane as trovas estão ótimas gosto muito dessa escola literária.
    Priscilla 3º semestre

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  4. ARCADISMO

    Origem

    O Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo, surgiu no continente europeu no século XVIII, durante uma época de ascenção da burguesia e de seus valores sociais, políticos e religiosos. Esta escola literária caracterizava-se pela valorização da vida bucólica e dos elementos da natureza. O nome originou-se de uma região grega chamada Arcádia (morada do deus Pan). Os poetas desta escola literária escreviam sobre as belezas do campo, a tranquilidade proporcionada pela natureza e a contemplação da vida simples. Portanto, desprezam a vida nos grandes centros urbanos e toda a vida agitada e problemas que as pessoas levavam nestes locais. Os poetas arcadistas chegavam a usar pseudônimos (apelidos) de pastores latinos ou gregos.

    Características do Arcadismo

    As principais características das obras do arcadismo brasileiro são: valorização da vida no campo, crítica a vida nos centros urbanos (fugere urbem = fuga da cidade), uso de apelidos, objetividade, idealização da mulher amada, abordagem de temas épicos, linguagem simples, pastoralíssimo e fingimento poético.

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  5. CLASSISMO

    Introdução

    O classicismo é um movimento cultural que valoriza e resgata elementos artísticos da cultura clássica (greco-romana). Nas artes plásticas, teatro e literatura, o classicismo ocorreu no período do Renascimento Cultural (séculos XIV ao XVI). Já na música, ele apareceu na metade do século XVIII (Neoclassicismo).

    Características do Classicismo: - Valorização dos aspectos culturais e filosóficos da cultura das antigas Grécia e Roma;

    - Influência do pensamento humanista;

    - Antropocentrismo: o homem como o centro do Universo;

    - Críticas as explicações e a visão de mundo pautada pela religião;

    - Racionalismo: valorização das explicações baseadas na ciência;

    - Busca do equilíbrio, rigor e pureza formal;

    - Universalismo: abordagem de temas universais como, por exemplo, os sentimentos humanos.

    Principais representantes do Classicismo dos séculos XIV ao XVI: - Na literatura destacou-se o escritor português Camões, autor da grandiosa obra Os Lusíadas. Podemos também destacar os escritores: Dante Alighieri, Petrarca e Boccacio. - Nas artes plásticas, podemos destacar: Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael Sanzio, Andrea Mantegna, Claudio de Lorena entre outros.

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  6. A ESTÉTICA BARROCA EM PORTUGAL

    O Barroco é fruto de um período em que o conservadorismo da Igreja se intensifica, reagindo contra a inovação da época e os valores burgueses, como o amor, o luxo e o dinheiro. O clima de religiosidade foi restaurado, contrariando uma ideologia da Antiguidade Clássica. Esses fatores levaram os homens a conciliarem os valores medievais (teocentrismo) com os renascentistas (antropocentrismo). Inicia em Portugal o domínio espanhol, que dura de 1580 a 1640.

    No que se refere à estética Barroca, pode-se afirmar que este período opõe-se a estética clássica: superfície x profundidade, forma fechada x forma aberta, multiplicidade x unidade. O homem barroco caracteriza-se pela fuga de sentimentos contraditórios que envolvem a natureza humana, exaltando os valores cristãos – o homem volta-se para Deus. Caracteriza-se também por traços peculiares como o exagero de imagens e figuras de linguagem, expõem problemas religiosos da época, o artista barroco retrata ainda a sensualidade, tanto em relação à natureza como ao corpo humano. Podemos encontrar dois tipos de estética barroca: a gongorica e a conceptista. Sendo a gongorica, preocupada com a descrição das coisas (cultismo, rebuscamento formal, jogo sensorial de palavras) e o conceptismo (sofisticação no plano das ideias e argumentações paradoxais).

    É necessário ressaltar ainda que Padre Vieira deixou-nos uma vasta e importante obra que compreende obras de profecia, cartas e sermões: O Sermão da Sexagésima é, talvez, um dos seus sermões mais famosos. Pregado na Capela Real, em Lisboa, em Março de 1655, abre a série de quinze volumes dos sermões de Padre Vieira, servindo de prólogo, ao mesmo tempo em que encerra uma arte de pregar, inspirada pela dialética conceptista, indo contra os excessos gongóricos. Sendo de caráter metalingüístico, pois trata da própria arte de pregar.

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  7. Os acadêmicos do 3º semestre de letras Cinthia, Cycleide, Juliana Inácio,Kênnia, Nariely e Priscilla gostariamos de contribuir com o blog então postamos as sínteses do arcadismo, classismo e a introdução do Barroco, desde já parabenizamos a todos os trabalhos postados.

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  8. Só faltou as referências. Excelente trabalho parabéns!

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